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Caminho da Geira e dos Arreeiros


8 Maio 2025

Ação Social e Cultural

Caminho da Geira e dos Arreeiros

– 12 de abril de 2025 - SPZN 

 
Abril marca o início de uma nova aventura pelos Caminhos de Santiago.

Desta feita, o SPN organiza o Caminho da Geira e dos Arreeiros, com a orientação do Professor Manuel Araújo e apoio da Professora Manuela Felício, e um entusiasta grupo de caminheiros.

“Este Caminho Jacobeu de Braga a Santiago de Compostela tem uma extensão de 239km, grande parte deles na Via Nova ou Geira (Via XVIII), uma das mais preservadas vias romanas do mundo – percorre florestas, bosques e vinhedos, atravessa rios largos e pequenos ribeiros, através das mais belas e intocadas paisagens naturais do Minho e da Galiza. É um itinerário de verdadeira espiritualidade e transcendência, de introspecção e descoberta, que convida os peregrinos ao reencontro, ao viverem este verdadeiro Caminho.”

1ª Etapa: Braga – Caldelas

Iniciamos esta etapa na Sé Catedral de Braga, já engalanada para a Semana Santa. No seu interior, esperava-nos a cerimónia religiosa de Bênção aos Peregrinos. Houve oportunidade de visitar este magnífico monumento, anterior à nacionalidade (acredita-se que foi construída no local de um templo romano dedicado à deusa Ísis). Ao longo dos séculos esta catedral foi sendo alvo de alterações, fruto da evolução dos tempos, dos cânones religiosos e dos estilos arquitetónicos, resultando numa beleza ímpar, que nos ofusca e deslumbra. Muito havia para descobrir, mas não havia tempo, o templo iria fechar…

Não poderia faltar o alegre convívio do lanche matinal, aconchegando os estômagos, para que puséssemos os pés ao Caminho com mais energia e animação. Atravessando o centro histórico da cidade, encaminhamo-nos para a periferia. Detivemo-nos na Fonte de Santiago, mandada construir pelo arcebispo D. Diogo de Sousa em 1531, para apoio aos peregrinos, mas que se transformou também num local de devoção e de encontro.

Sempre a descer, em breve o verde dos campos já aparecia junto dos edifícios. Num instante o tempo parecia ter parado, pois uma estreita vereda(*), de muros e taludes cobertos de musgos, ladeada por campos de cultivo, levou-nos ao conjunto arquitetónico constituído pela Igreja de S. Jerónimo de Real, Convento de S. Francisco, Capela de São Frutuoso e, no seu luminoso adro a Bica de Santo António e o Cruzeiro.

(*)Percorremos um pequeno troço do que resta do Caminho do Anel, assim denominado por ser o caminho que os cónegos de Braga calcorreavam para vir repousar ao Convento.

Na bela Igreja (de arquitectura religiosa, barroca e rococó), esperava-nos o sacristão que simpaticamente nos deu informações sobre os monumentos. Visitamos a Igreja (de realçar a urna em vidro com as ossadas de São Frutuoso - relíquias levadas por D. Diogo Gelmires em 1102 para Compostela, e restituídas, em parte, em 1966); a sacristia (com uma exposição de pintura retratando a vida de São Frutuoso); o coro alto, com acesso pelo exterior, com o seu cadeiral quinhentista (reaproveitado da Sé de Braga e um dos três exemplares existentes em Portugal); o acesso à Capela de São Frutuoso faz-se através de uma escada protegida por um gradeamento. Segundo a tradição, neste local existiria uma villa romana (ano de 560). São Frutuoso, nascido na Hungria, foi Bispo de Braga e Dume na segunda metade do séc. VII, e, em 660 (época visigótica), terá mandado construir o Mosteiro de S. Salvador de Montélios, incluindo uma capela para o seu panteão (Capela de São Salvador de Montélios ou Capela de São Frutuoso de Montélios). Esta pequena capela é uma cápsula do tempo, notável sobrevivente da arte suevo-visigótica com decoração inspirada em motivos bizantinos, em cruz grega (muito semelhante ao Mausoléu de Gala Placídia, em Ravena, Itália - que integra o conjunto de oito monumentos classificados como Património Mundial da UNESCO), modelo vigente na capital do reino - Toledo. Em 1523, o Arcebispo Dom Diogo de Sousa funda o convento franciscano da Ordem dos Capuchos da Piedade, provavelmente destruindo ou reaproveitando o Mosteiro já existente, no entanto, mantém a pequena Capela Mausoléu de São Frutuoso (cuja devoção e fama se havia expandido), obrigando a que a nova Igreja de São Jerónimo seja construída ao lado. A Capela de São Frutuoso é hoje classificada como monumento nacional.

Nos dias de hoje o Convento encontra-se em fase de recuperação, após muitos anos entregue ao abandono e à ruína, numa parceria entre a Universidade do Minho, a Câmara Municipal de Braga, a Direção Regional de Cultura do Norte e a Paróquia de Real (programa Norte 2020).

Depois de apreciados estes fascinantes monumentos, seguimos o nosso Caminho, percorrendo veredas e estradas pelos campos e pequenas localidades. Durante algum tempo o Caminho é partilhado com a Rota de S. Bento e o recente caminho Minhoto Ribeiro. Quase a chegar à Ponte do Bico sobre o Rio Cávado, sofremos uma chuvada forte até ao Restaurante Flor do Sal, em Amares. Famintos e molhados apreciámos com satisfação o reconfortante almoço.

Com as capas secas, e já sem chuva, retomamos a nossa etapa pela via urbana. Na freguesia de Palmeira passamos junto ao fascinante e intrigante Palácio de D. Chica (1915), com o traço do famoso arquiteto suíço Ernesto Korrodi, imóvel classificado como monumento de interesse público (de momento em obras de remodelação para construção de um hotel de charme) e a sua luxuriante e exótica mata de árvores centenárias. Curiosamente, Korrodi publica em 1897 um pequeno estudo sobre São Frutuoso de Montélios, intitulado “Um Monumento Bizantino-Latino em Portugal”, no Boletim de Arquitetura da Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos Portugueses.

O nosso Caminho levou-nos à Cerca do Mosteiro de Santo André de Rendufe, em Amares, anunciando o grandioso edifício pelos imponentes muros de pedra e os belíssimos e enormes portões entalhados em madeira. Este foi um dos principais mosteiros da Ordem Beneditina em Portugal entre os séculos XII-XIV, não se sabendo em concreto o ano da sua edificação. Sabe-se que, em 1090 o Abade do Mosteiro chamava-se D. Sesnado e que a primitiva igreja já existia em 1151. O Mosteiro entrou em decadência após a extinção das ordens religiosas masculinas (1834), passou a propriedade privada, sofreu um grande incêndio (1877) e a ruína foi-se apoderando dos edifícios. Em 2016 integrou o Programa Revive, em 2021 foi concessionado por 50 anos a uma empresa privada, prevendo a sua reabilitação e transformação num hotel de 50 quartos, mas a empresa solicitou a revogação do contrato (neste momento já tem telhado). Já a igreja, tornada paroquial aquando da extinção da Ordem Beneditina, em 1960 sofreu uma derrocada do telhado e da abóbada, tendo sofrido ao longo dos tempos obras de melhoramento/restauro/edificação. O seu interior é muito belo, muito rica em talha barroca e rococó, e como estávamos no tempo pascal, todas as imagens estavam cobertas com panos roxos. Os terrenos da antiga cerca do mosteiro constituem uma enorme exploração vitivinícola (privada).

Seguimos Caminho pela Calçada do Couto de Rendufe, um trecho muito bem conservado da Geira Romana. A partir daí mergulhamos na ruralidade habitada e colorida, mas também em frondosos bosques.

A Primavera explodiu nesta primeira etapa: as cores vivas, a profusão de flores e aromas acompanharam o nosso Caminho. As glicínias, dispostas em ramadas cobertas de aromáticos cachos lilás foram as rainhas, proporcionando um bálsamo calmante aos nossos sentidos.

Chegamos à meta do nosso Caminho de hoje: Caldelas, vila do coração do Minho, situada na zona de transição do Alto para o Baixo Minho, já às portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Cansados, mas felizes pelo término de mais uma etapa, gratos pela experiência de auto-superação, de deslumbre pela beleza e riqueza do património natural e histórico, pela partilha e camaradagem de um grupo espetacular.

Já só faltam 222 km para a chegada a Santiago de Compostela, “É JÁ ALI…”



1ª Etapa Caminho Geira

 


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